Cacique Raoni escolhe grupo de lideranças indígenas para sucedê-lo em trabalho de luta pelos povos originários, diz neto

27/07/2023

Raoni Metuktire, líder do povo Kayapó — Foto: Rogério Júnior/g1

Raoni Metuktire é líder do povo Kayapó e ficou conhecido internacionalmente pela luta por direitos indígenas. A expectativa em torno de um sucessor ocorre por causa da idade avançada do cacique, que tem mais de 90 anos.

 

O cacique Raoni Metuktire, líder do povo Kayapó e conhecido internacionalmente pela luta por direitos indígenas, deve ser sucedido por um grupo de lideranças indígenas que o acompanha, para que deem continuidade ao trabalho. A informação foi confirmada pelo neto de Raoni, Beptuk Metuktire, em entrevista exclusiva ao g1, nesta quinta-feira (27), na Aldeia Piaraçu, em São José do Xingu, a 932 km de Cuiabá, onde acontece o maior encontro dos povos originários.

“Raoni não tem como parar e vai continuar até onde for, mas ele quer mostrar quem pode continuar nessa luta. Ele não vai escolher uma só pessoa, ele quer escolher um grupo para o suceder. São, por exemplo, o cacique Megaron Txucarramãe, que já andou muito com ele e sabe lidar com o sistema do homem branco. Tem também os caciques Bedai e Pekan, além de Puyu e Belmoron, e outras pessoas fora do território”, disse Beptuk.

O anúncio oficial sobre as futuras lideranças do povo indígena ainda deve acontecer durante o evento. A expectativa em torno de um grupo que continue a luta de Raoni ocorre por causa da idade avançada do cacique, que tem mais de 90 anos.


Beptuk ressaltou ainda que o protagonismo das mulheres indígenas vem ganhando força com o passar dos anos, o que indica que líderes femininas também devem compor a equipe sucessora do líder Kayapó.

Questionado se ele deve integrar esse grupo agora, Beptuk dispensou a ideia, por ora, mas disse que está no caminho.

“Eu vou ser no futuro. Ainda estou no processo de aprendizado. Estou me preparando para isso e articulando”, pontuou.


Chamado Raoni


O encontro, que começou na segunda-feira (24) e segue até essa sexta-feira (28), conta com mais de 800 indígenas, sendo 54 representantes dos povos originários, além de representantes políticos.

O evento reúne mais de 90 idiomas e, durante o plenário onde os representantes discursavam, havia um grupo ao lado para traduzir a discussão em tempo real aos indígenas que estivessem com um dos 120 rádios distribuídos.

O Chamado do Raoni, conta ainda com a presença da presidente da Funai, Joenia Wapichana, e do presidente do Ibama, Rodrigo Agostinho. A ministra dos Povos Indígenas, Sônia Guajajara, também deve participar.

Ao final do evento, será divulgada uma carta aberta com as reivindicações e próximos passos da luta indígena.

Esse é o segundo encontro realizado na história do povo indígena em Mato Grosso. A primeira edição foi em janeiro de 2020, antes da pandemia. Dela, saiu uma carta de compromisso das lideranças, o "Manifesto do Piaraçu". O evento deste ano deverá gerar um novo documento.

 

Quem é Raoni

 

O cacique Raoni Metuktire, de 90 anos, foi um dos convidados para subir a rampa do Palácio do Planalto durante a cerimônia de posse do presidente Luis Inácio Lula da Silva (PT), no dia 1º de janeiro deste ano.

Raoni é um dos líderes da articulação dos indígenas em defesa dos direitos dos povos originários. Em 1989, ele teve um encontro histórico com o cantor Sting, durante o I Encontro dos Povos Indígenas do Xingu, em Altamira (PA).

Em novembro de 2012, o cacique foi recebido pelo então presidente da França, François Hollande, no Palácio do Eliseu. Na ocasião, o cacique pedia a preservação da Amazônia e dos povos que vivem na região.

Quando ficou internado com Covid-19, ele recebeu a visita de um bispo em nome do Papa Francisco.

 

Fonte: G1